Ao completar 161 anos, Oliveira está vencendo a luta para preservar suas feições físicas, econômicas e humanas.
Comemora-se nesta segunda-feira (19) cento e sessenta e um anos da cidade de Oliveira. Pouco mais de um século e meio de história foram suficientes para delinear suas características únicas, colocando-a entre os mais genuínos espaços urbanos de Minas Gerais. Há de se grifar, entretanto, que na última década a sociedade oliveirense tem lutado contra si mesma para manter suas feições urbanas, sociais e econômicas, conquistadas, a duras penas, nessa sua epopeia de vida.
Nenhuma arte influencia mais diretamente na vida de um povo do que a arquitetura. As construções físicas que servem, entre tantas outras atividades, como moradias, locais de trabalho, tratamento da saúde e instrumentos de entretenimento, moldam a capacidade da população em se educar e se desenvolver. Uma cidade bem erguida alicerça a evolução humana de seus habitantes. E não precisa ser grande, para ser imensamente bela.
Há cidades desconexas, de traçado confuso e amorfo, de casas e prédios iguais, estandardizados, quadrados, numa simetria que nada acrescenta, além da mesmice e ausência de movimentos. Espaços assim diminuem e comprimem os seres humanos que neles residem, contribuindo para produzir uma população mais deprimida e distante de seus ideais de autonomia, esclarecimento e liberdade.
Trilhando o mesmo caminho, e sendo esta consequência daquela, a economia está no mesmo nível da arquitetura e com ela se rivaliza enquanto termômetro infalível de crescimento urbano. Uma cidade arquitetonicamente humana ajuda a produzir riquezas mais sólidas e bem distribuídas. Não há injustiça maior do que relegar os pobres a barracos de papelão e elevar os ricos a mansões. Ora, se as diferenças sociais são inevitáveis e até mesmo naturais, não menos obrigatório é o direito à dignidade e ao respeito.
Em Oliveira, na última década, convivemos com longos períodos de instabilidade econômica, alternando momentos de melhoria, estagnação e retrocesso. Isto se deu por força de gestões empresariais, políticas administrativas e, no último triênio, pela maior crise sanitária de sua história. De fato, a pandemia do novo coronavírus praticamente paralisou a cidade por longos e sofridos dias. Da mesma forma antes, e ainda agora, esta urbe se ressente de ignominiosos ataques ao seu patrimônio arquitetônico, continuando a resistir, bravamente, à insanidade da especulação imobiliária e às tentativas de transgressões às leis estaduais e federais, impetradas, inclusive, por agentes políticos municipais.
Coincide com o19 de setembro de 2022 a ocorrência mais baixa de Covid-19 em Oliveira, no Brasil e em todo o mundo, fato que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a vaticinar nessa quarta-feira (14) que o mundo nunca esteve em melhor posição para encerrar a pandemia, como mostra reportagem publicada nesta edição de GAZETA DE MINAS. Outra matéria apresenta mais uma vitória judicial da preservação histórica da cidade, que se junta a tantas outras indiscutíveis sentenças.
Bons sinais para a retomada da economia oliveirense? Reafirmação da importância social de sua inigualável arquitetura? Vitória de sua ilimitada verve de pertencimento? Embora convalescente de duros tempos e tendo sentido os golpes em seu desenvolvimento global, os fatos mais recentes não deixam de trazer bons e novos ares a esta cidade, que não apenas sobreviveu, mas conseguiu preservar suas feições.
Aos 161 anos, Oliveira parece pronta para continuar honrando o seu nome e sua história. Seremos capazes?
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