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Editorial: Ambiente insalubre



Nada temos para comemorar sobre a preservação do planeta.


Chega a ser heroica a maneira como os municípios do Brasil “comemoram” a Semana do Meio Ambiente. Trata-se de um movimento de resistência, de parcos recursos, enfrentando um monstro tentacular e poderosíssimo, com exíguas chances de ser vencido, que devora os recursos naturais da Terra com apetite voraz. Neste momento, a gigantesca estrutura industrial de consumo erguida na maioria dos países, especialmente nos maiores e economicamente mais desenvolvidos, age para dizimar tudo que é vivo e natural.


Lutar contra o aniquilamento do meio ambiente é uma ação ao mesmo tempo imprescindível e inglória. Ontem mesmo vimos o Congresso Nacional esvaziar dois ministérios recentemente criados no Brasil com o intuído de fortalecer e institucionalizar a defesa dos povos da floresta e a própria floresta. Por retaliação política, vesga ideologia, interesse exclusivista ou vínculo espúrio com os invasores da Amazônia, jogou-se por terra uma das únicas iniciativas governamentais capazes de frear as motosserras e o garimpo ilegal. Agindo como sequazes do monstro, os parlamentares abriram outra vez as porteiras para a boiada passar.


São inúmeras e cada vez mais extensas as transgressões das leis ambientais e dos limites da própria natureza, sempre em nome do progresso e da insaciável fome de consumo de uma humanidade a cada dia menos humana, capaz de se autodestruir, na ilusão do vislumbre de um paraíso material. Seguem as sociedades economicamente evoluídas para um verdadeiro cadafalso, ignorando os sinais cada vez mais fortes de que algo terrível está por vir. O descontrole ambiental já provoca grandes desastres naturais, tempestades e inundações destruidoras, derretimento das calotas polares, aumento dos níveis dos oceanos, multiplicação de tornados e furacões, incêndios florestais, mortandade em massa de espécies, poluição de rios e mares, imensos buracos na camada do ozônio que defende a Terra dos letais raios solares.

Apocalipse?


Seguem os seres humanos contabilizando pseudo-vitórias, na expansão urbana desenfreada, na especulação imobiliária, na supressão de matas, na poluição das águas e do ar. E quanto mais a sociedade aumenta e diversifica seus níveis de consumo, mais rapidamente o planeta se esgota e se aproxima de seus limites. Engano imaginar que tudo isto ocorre longe de Oliveira e dos oliveirenses, já que milhares de quilômetros separam esta cidade da longínqua Floresta Amazônica, pivô da inglória batalha dos povos originais, de ambientalistas caçados e mortos, da sanha de políticos miméticos.


Cada árvore nativa cortada nas inúmeras fazendas, sítios e chácaras de Oliveira; cada capoeira morta e retirada para introdução de pastos e lavouras; cada nascente pisoteada e abandonada; cada queimada feita em lotes e terrenos nas zonas urbana e rural; cada córrego assoreado pelo mau uso do solo em seu entorno; cada ribeirão com águas emporcalhadas de esgoto e efluentes industriais, colaboram diretamente para o enfraquecimento da vida e abertura do atalho para o Armageddon.


Com palestras, demonstrações, distribuição de espécimes e odes à natureza, Oliveira “comemorou” mais uma Semana do Meio Ambiente. Um pequeno hiato para ensinar a lição que, como poetizou a primaveril canção de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, “sabemos de cor, só nos resta aprender”.

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