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Editorial: Da ciência do pertencimento


A sociedade municipal acaba de receber uma valiosa ferramenta de progresso.



Foi concluído e entregue ao seu devido uso o “Projeto de Educação Patrimonial e Cidadania de Oliveira”. Trata-se de um esforço coletivo das classes artística e educacional, aproveitando-se de uma longa experiência de vida de alguns agentes e abrindo espaços à pesquisa da nova geração cultural. O resultado é um trabalho multidisciplinar e dinâmico, que utiliza a arte para inocular o verdadeiro sentido de pertencimento, renovando os laços de fraternidade muitas vezes perdidos pela massacrante rotina hodierna.


Quase nada se salva, hoje, dos furacões sociológicos que varrem o planeta, por conta da globalização tecnológica e comunicacional. Estão praticamente destruídos os liames mais caros da humanidade, engolidos pelo consumo desenfreado e por ideologias sectárias. E quanto mais avança essa destrutiva varredura, menos possibilidades restam de se reatar os reais motivos da socialização. Daí o atrofiamento das nações e dos aspectos mais singulares dos povos. A guerra da Ucrânia, neste momento, exemplifica de forma espantosamente realista a perda do respeito mútuo, criando o ambiente propício para uma hecatombe, jogando a humanidade contra uma possível batalha nuclear.


Nada a fazer?


Impossível não enxergar os estragos promovidos pela sociedade moderna, nos mais profundos sentimentos de cidadania. Salta aos olhos o esvaziamento da municipalidade, escorrendo pelos dedos a capacidade do indivíduo se situar enquanto dádiva de uma gente que tem origem, história e haveres culturais. Aqui em Oliveira viveu-se, até um tempo não muito distante, uma harmoniosa capacidade de se reconhecer enquanto seres humanos históricos, com personalidade social bem delineada e motivos existenciais peculiares. Ou seja: uma comunidade com profundos laços de identificação mútua. O esmaecimento dessa fortuna existencial, vítima do avanço do individualismo pós-moderno, é o que precisa ser evitado, a qualquer custo, para que se preserve a verdadeira identidade municipal.


O trabalho ora entregue a Oliveira busca exatamente sacudir a sociedade local, tirando-a do entorpecimento gerado pelo existencialismo descartável, fazendo-a voltar a enxergar suas raízes mais profundas. É enorme a importância disso, no sentido de proteger o espírito de cidadania e civismo, que precisa se sobrepor à geleia geral. Somente assim conseguir-se-á entregar às novas gerações um ambiente um pouco mais propício à verdadeira educação e desenvolvimento, ajudando a juventude, principalmente, a se promover nas amplitudes humana e profissional.


Não há como desvincular o progresso econômico do social e cultural. As mais desenvolvidas nações do mundo sempre agiram como verdadeiras guardiãs de seus conhecimentos e tradições. E aqui cabe mais um exemplo que salta aos olhos: as nações asiáticas, do Japão à Coréia do Sul, da China a Taiwan, onde se preserva cada milímetro de história, cada centímetro de patrimônio cultural. Somente a ligação intrínseca entre tradição e avanços científicos é capaz de impulsionar os povos no alcance de suas mais importantes conquistas.


Aí está o grande sentido social do “Projeto de Educação Patrimonial e Cidadania de Oliveira”. O vigoroso feixe de informações, alinhavado pela força das artes, que ora se oferece a esta cidade, é instrumento capaz de manter sua identidade, o verdadeiro sentimento de cidadania, o diferencial entre a barbárie e a civilização. Daí a necessidade de um profundo agradecimento a todos os envolvidos na iniciativa, narrada de forma jornalística nesta edição de GAZETA DE MINAS, em forma de reportagem especial, para que ninguém possa alegar ignorância e para que todos dela possam usufruir completamente.


Bom proveito!

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