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Editorial: Feiras de gente


Mercados de rua são muito mais que comércio de produtos em Oliveira


Ao declarar as feiras livres de Oliveira como patrimônio histórico, o Poder Legislativo Municipal acrescenta páginas de humanidade numa das mais equilibradas formas de relacionamento social. A feira, quando centenas de pessoas reúnem-se em torno de barracas de frutas, verduras, legumes e artesanato, vai muito além da necessidade de adquirir produtos frescos ou arte. Esse tipo de evento coletivo possui um motivo maior: a possibilidade do encontro entre pessoas, algo impagável com dinheiro, mas tangível com um sorriso ou abraço.


A feira livre de Oliveira, onde pessoas se encontram nas manhãs de sábado, tem o endereço certo: Praça Dona Manoelita Chagas. Imperioso que seja em praça pública, especialmente em logradouro largo e tradicionalmente frequentado pela população. No caso da Manoelita Chagas, ali ocorreram algumas das mais importantes reuniões públicas da história do município, incluindo comícios políticos de figuras exponenciais, eventos da comunidade burguesa, congado, procissões. É lá onde se encontra o Palácio Episcopal, com toda a sua envergadura de fé e poder religioso. Foi lá onde chegou o progresso pela linha férrea no Século Dezenove, onde aportaram os imigrantes, e onde ora se ergue o maior complexo hospitalar da região.


Já a feira de artesanato pode ocorrer em locais menos rigorosos. Isto porque o artesão é artista por natureza e a relação com sua “freguesia” se dá de maneira direta e intrínseca, fazendo a cultura e a história acontecerem imediatamente. Talvez por isso a de Oliveira seja mais itinerante, menos plantada e enraizada no cenário arquitetônico urbano. O que se encontra na feira de artesanato é a capacidade de construir arte manufaturada, e por isso a história é inerente a ela. O bordado, a boneca, o crochê, a toalha ou a colcha de retalhos já trazem, em si, os traços sociológicos que os moldaram.


Em ambos os casos, entretanto, as feiras têm um significado lúdico inquestionável e de altíssima importância para o exercício pleno da cidadania. Entre feirantes e compradores estabelece-se uma relação de confiança mútua, que ao longo do tempo vai se transformando em amizades autênticas. Entre compradores e compradores há abraços e cumprimentos vários, muitos deles entre pessoas que há muito não se avistavam. Há casos pitorescos, anedotas, revelações trágicas, despedidas de gente que morou ali por mais de meio século e agora está prestes a partir de mudança definitiva, talvez para sempre. Há revelações surpreendentes, recomendações saudosas e, na maioria das vezes, conversa fiada e relaxante.


Acerta na mosca o vereador Sirley Clécio, ao apresentar os projetos que declaram como patrimônio histórico as feiras livre e a de artesanato, que há décadas vêm ajudando a compor o tecido social mais autêntico desta cidade. De maneira quase imperceptível, esses mercados coletivos produzem um importante amálgama social. Enquanto as pessoas transitam entre as barracas, enquanto passeiam pelo circuito, enquanto descansam nos bancos do jardim, enquanto degustam o pastel frito na hora, enquanto admiram as folhas de couve verdes e sadias, a moranga enxuta, o tomate suculento, a abobrinha apetitosa, a cebolinha cheirosa, produzem o milagre do encontro e do diálogo.


Com seus naipes, movimentos e autênticas personalidades, as feiras de Oliveira são, de fato, patrimônios comunitários imprescindíveis, históricos em suas essências, e que devem ser mantidos e melhorados sempre. Aplausos, portanto, à iniciativa do parlamentar. Resta, agora, fortalecê-las institucionalmente, para que ocorram sempre mais e maiores, com todos os seus modos e adornos.

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