No retorno às salas de aula, a comunidade escolar volta a conviver com falhas capitais.
Há problemas a serem resolvidos no retorno das aulas em Oliveira. Históricas carências permeiam o ensino público brasileiro e este município não foge à regra. Da crescente alienação digital dos alunos, às leis que estabeleceram os métodos empregados na pedagogia, grandes obstáculos se impõem entre professores, alunos e famílias, gerando enormes desafios para quem pensa em constituir uma boa base, na corrida pelo sucesso no nível superior e, mais importante ainda, na vida profissional.
Alicerce é tudo para quem quer construir. E não basta justapor pedra sobre pedra. É preciso pesar, medir, calcular, dosar, entender o projeto, evitar erros. Assim é na educação básica, quando o aluno tem a oportunidade de ter contato, desbravar e desenvolver suas forças, aptidões e potenciais cognitivos. Ao estudante universitário não há como aprender astrofísica, se lá atrás não lhe ensinaram tabuada, e mais à frente, álgebra e equação.
Dois grandes empecilhos travam o ideal desenvolvimento dos alunos da educação básica: o desleixo ensejado pelos maus estabelecidos métodos de ensino e a cada vez mais profunda alienação digital.
No primeiro estão as fracas exigências na promoção entre as séries. Isso ocorre por conta da massificação do ensino. Muita gente ocupando vagas que precisam ser disponibilizadas aos que vêm a seguir e já estão na fila. O fenômeno cria a necessidade de aprovar a maior quantidade de alunos possível, prejudicando frontalmente o aprendizado. Há casos, e não são poucos, de formandos no ensino médio que ainda carregam sobre os ombros a pecha de analfabetos funcionais, aqueles que não conseguem leitura fluente e entendimento dos contextos da leitura.
O segundo é o tumor maligno da alienação digital, o vício das redes sociais, a dependência da absoluta conexão. Ao submeter sua vida social e seu bem estar pessoal à presença de um aparelho celular ligado e “linkado” na internet, o estudante se desloca do mundo real, ou seja, aquele que lhe dá acesso à ciência e ao conhecimento, e mergulha no universo virtual, onde quase nada é concreto, e onde impera a atração pelo fútil, pela vida alheia, pela estética materialista, pelo consumismo desenfreado, pelo crime, pelo imoral. A alienação digital é mais que um vício, sendo hoje tratada como grave patologia clínica. É pior que qualquer outro alucinógeno, da maconha ao crack, da cocaína aos opióides.
Está claro que o ensino brasileiro precisa de radicais mudanças no que se convencionou chamar de Base Nacional Comum Curricular (BNCC), prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Plano Nacional da Educação. Pois não basta afirmar que o verdadeiro aprendizado é direito de todos os brasileiros. É preciso vivenciar isto na prática, mas tudo cai por terra quando o professor é orientado a aprovar alunos a toque de caixa, mesmo não reunindo os níveis mínimos de conhecimento, mesmo não sabendo ler perfeitamente o mundo, a realidade, redundando em sujeitos que apresentam irrisório grau de criticidade, pífio discernimento e baixíssimas métricas de raciocínio.
Ao lado disso, é imperioso que se promova o combate à alienação digital, por meio da conscientização sobre seus males, das influências negativas na vida do educando e pelo controle do uso de dispositivos no ambiente escolar.
As aulas voltaram, mas com elas os mesmos problemas que corroem a qualidade do ensino e da formação profissional. Se a educação é crucial para o desenvolvimento de um país, também é notório que, sem bases sólidas, ela tende a se transformar em escuras frustrações, no salve-se quem puder, inibindo um direito inalienável de todos.
Atenção, classe!
Comments