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Entrevista especial: A mulher superando limites, mostrando sua força e leveza


Sargento Clevaine: “A Companhia de Polícia Feminina surgiu para diversificar e engrandecer a corporação.”.

Há 28 anos na Polícia Militar de Minas Gerais, Luciene Clevaine Silva Marques (nome de guerra: Sargento Clevaine) viu a corporação passar por mudanças rápidas no que diz respeito à admissão de mulheres em seus quadros. Casada com o policial penal Antônio Marques da Silveira Filho e mãe do barbeiro Keltton Lucas Lisboa, ela narra, nesta entrevista à GM, sua vitoriosa trajetória, numa profissão antes vista como exclusividade masculina, mas que já se transformou em símbolo de superação, terreno fértil para a emancipação feminina.


Gazeta – A carreira militar no Brasil historicamente se constitui num reduto masculino. Por que você decidiu entrar para a Polícia?

Clevaine - Sou nascida em Oliveira, eu e meus pais morávamos na zona rural denominada “Felix dos Santos” e ainda na infância, quando tinha aproximadamente sete anos, em viagem à capital mineira, pela primeira vez vi uma mulher fardada. Ao ver aquela mulher ostentando a farda da Polícia Militar de Minas Gerais fiquei encantada. Desde então o meu sonho sempre foi ser uma policial militar. Quando mudamos para Oliveira, para dar continuidade aos estudos, trabalhei como doméstica e na saudosa Sílvia Rabelo, mas nunca deixei o meu sonho. Minha mãe Luzia, sempre incentivou os meus sonhos e ao completar dezoito anos, no primeiro concurso para a PM, fiz minha inscrição e passei. Lembro-me de que eram 400 candidatas para apenas 5 vagas. Nunca foi fácil, nunca foi sorte, sempre foi Deus.


Gazeta – Quando você começou sua carreira e quais as primeiras dificuldades enfrentadas?

Clevaine - Em 1995, com apenas 18 anos, ingressei na PM. A primeira grande dificuldade enfrentada foi estar longe da família, já que meu ingresso na corporação se deu no Sul de Minas, na cidade de Varginha, cidade grande e que eu não conhecia, onde me sentia muitas vezes perdida. Mas a PM é uma grande família e fui muito bem acolhida.


Gazeta – Fale um pouco sobre sua trajetória profissional em Oliveira e os fatos que marcaram sua carreira até aqui.

Clevaine - Após o ingresso na instituição, permaneci lotada em Varginha por 2 anos. Em seguida prestei concurso interno para promoção a cabo, realizando o curso na cidade de Pouso Alegre. Após ser promovida a cabo, retornei para Varginha, permanecendo por lá por mais 3 anos. No ano 2000 realizei o sonho de servir em minha cidade natal, vindo a ser movimentada para Oliveira. Em 2011 um novo desafio: a realização do Curso de Formação de Sargentos na sede do 8° BPM. Após ser promovida a sargento, retornei a Oliveira, permanecendo até os dias atuais. Estando na corporação, somos sempre desafiados a crescer intelectualmente e profissionalmente. São inúmeros cursos de aperfeiçoamentos que eu sempre me dispus a fazer. São tantos fatos, títulos, honras ao mérito, elogios, medalhas, homenagens, que enchem meu coração de amor. Duas se destacaram muito aqui em Oliveira: ter sido homenageada pelo Rotary Club e ter recebido a “Comenda Legislativa de Mérito Policial Sargento José Rogério” em uma linda festa realizada pela Câmara Municipal de Oliveira.


Gazeta – Como a policial feminina é preparada para o enfrentamento das ocorrências diárias com o crime, a violência e os distúrbios sociais? Ela age da mesma forma do policial masculino?

Clevaine - Na PM não existe curso separado para homens e mulheres. O curso é um só para ambos os sexos. Somos constantemente submetidos a treinamentos e a desenvolver nossas habilidades. Eu nunca gostei de rotinas, sempre estava em busca de novos desafios e, por isso, já trabalhei em diversos setores como Tático Móvel, Patran, Cavalaria, Rádio Patrulha, Moto-patrulhamento, Patrulha de Operações, Patrulha Escolar, Jovens Construindo a Cidadania, Copom, Sala de Operações, sempre me dedicando com amor à profissão.


Gazeta – Neste aspecto, a carreira policial não é muito arriscada para a mulher?

Clevaine - Sim, Viver é arriscado. Os riscos são os mesmos que os enfrentados pelo policial do sexo masculino. A preparação permanente durante a carreira e o desejo de cumprir a missão nos deixam prontos para enfrentarmos os desafios.


Gazeta – Desde quando a Polícia Militar começou a admitir mulheres em seus quadros?

Clevaine - Em Minas Gerais a Companhia de Polícia Feminina foi criada por meio do decreto 21.336, de 29 de maio de 1981, assinado pelo governador Francelino Pereira dos Santos. A Companhia de Polícia Feminina surgiu para diversificar e engrandecer a corporação, bem como para torná-la mais versátil no sentido de suprir algumas limitações do policiamento, como a necessidade de atuar em ambiente onde só era permitida a entrada de mulheres ou em locais com grande afluxo de crianças, mulheres e idosos (feiras, escolas, parques, etc). Pode-se inferir, nesse caso, que a utilização do policiamento feminino teve um carácter estratégico, no sentido de transformar a percepção que a população tinha acerca da PMMG.


Gazeta – A sociedade civil tem sido receptiva à mulher policial?

Clevaine – Sim. Nunca tive nenhum tipo de problema em relação ao meu trabalho por ser policial feminina.


Gazeta – O número de vagas de policial militar para as mulheres tem crescido? Como você vê esse mercado de trabalho?

Clevaine - Em geral os concursos públicos estão com o numero mais elevado de vagas em relação ao ano que eu entrei na PM, provavelmente porque os cursos atuais são mais estendidos, voltados para a formação superior intelectual. Hoje em média um concurso, do edital à formatura, dura em média dois anos e neste intervalo muitos militares entram para o quadro de veteranos, obrigando a elevação do número de vagas. De modo geral, em todos os concursos públicos da policia militar são reservadas entre 5% a 10% de vagas para o sexo feminino. Atualmente, a PM conta com um efetivo de 3.794 policiais femininas, sendo 551 oficiais e 3.243 praças, desempenhando as mais diversas funções na corporação, nas áreas operacional e/ou administrativa. Eu sempre gostei da operacional.


Gazeta – O que você diria para as mulheres que pensam em ingressar na carreira militar?

Clevaine - Estudem, corram atrás de seus sonhos, eles não têm preço. Como diz a minha sobrinha Ana Julia: somos mulheres, somos guerreiras e somos fortes.


Gazeta – Como tem sido o seu trabalho na Polícia Militar em Oliveira? O que você ainda planeja para sua carreira?

Clevaine – Respondo com uma citação: “Trabalhe com o que você ama e nunca mais precisará trabalhar na vida.” (Confúcio). Este tem sido o meu lema desde que ingressei na PM, a minha paixão pela profissão não acabou com o passar dos anos. Eu planejo incentivar muitas mulheres a realizar seus sonhos, a serem empreendedoras fortes e destemidas. Estou sempre em busca da medalha de ouro que é trabalhar e tratar a todos, independente de sexo, religião e poder aquisitivo, com amor, respeito e igualdade. Vale destacar o tema do Dia Internacional da Mulher na instituição este ano: “A força e a leveza da policial militar servindo e protegendo a sociedade.”


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