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Exportando lixo

Crucial para o saneamento básico, destinação de resíduos sólidos continua onerosa e insolúvel.


Constitui-se em apenas mais um paliativo, a mudança na destinação dos resíduos sólidos gerados pela população de Oliveira. Após décadas de bate-cabeças, tempo em que muito se falou em aterros sanitários e proteção do meio ambiente, é notório o retrocesso no que diz respeito ao manejo do lixo urbano, problema que vem se refletindo de forma absurdamente negativa na maioria das cidades.


A questão se apresenta tão insolúvel, a ponto das prefeituras terem desrespeitado todos os prazos estabelecidos pelas leis aprovadas neste sentido, sem que as punições previstas em seus termos sequer ameaçassem os gestores. Prefeitos, vereadores, deputados, senadores e presidente da República quedaram-se, derrotados, mas nem por isso admitindo suas culpas.


Argumentos questionáveis não faltam para justificar a omissão oficial. Um deles, o mais utilizado, é que se trata de obra extremamente onerosa, não tendo os municípios, especialmente os menores e mais pobres, as mínimas condições de preencher essa lacuna. A verdade, entretanto, é bem outra: não se priorizou, até aqui, os investimentos para construção dos aterros sanitários municipais, preferindo, os políticos, apresentarem obras mais visíveis, mesmo que até mais caras.


Fala-se, e muito, que a administração pública deve eleger as iniciativas da área da saúde como principais, mesmo constituindo-se num poço sem fundo. Apesar de inquestionável, este argumento deixa à margem iniciativas que, se não estão diretamente ligadas ao fornecimento do medicamento, do ambulatório, das internações, dos exames e cirurgias, são cruciais na prevenção dos males do corpo, colocando-se como alvos de diuturno combate. É o caso do lixo, vetor de mazelas e miasmas, antro de bactérias, fungos, vírus e demais inimigos da saúde pública.


Pior, ainda, os estragos que seu incorreto armazenamento produz, com a contaminação do solo, rios e principalmente das águas subterrâneas, constituindo-se em arma de destruição do planeta. Tamanha gravidade, entretanto, tem merecido apenas o desdém dos poderes constituídos, numa aposta de alto risco na providência divina. Assim aceita, a relação do povo brasileiro com os milhões de toneladas de detritos que produz diariamente é a pior possível.


Dentro deste contexto, Oliveira inicia mais um capítulo de paliativos, ao “exportar” seu lixo diário para Bambuí, município localizado a 196 quilômetros daqui. São nada menos de quatrocentos quilômetros a serem rodados, diariamente, apenas por um caminhão de sujeira. Não é preciso ser perito para avaliar o custo dessa tarefa aos cofres públicos, especialmente agora, com o preço do óleo diesel nas alturas.


Está claro que os consórcios criados em Minas como tábuas de salvação para o manejo do lixo urbano, nem de longe se apresentam como ferramentas capazes de diluir o problema da destinação dos resíduos sólidos. Ao contrário, com capacidade limitada, esses arranjos apenas adiam, mais uma vez, as obras que prefeitos e vereadores continuam considerando como de custos exorbitantes.


É claro que isso é uma aberração. Afinal, se o correto manejo do lixo é questão de saúde pública, que por si sempre será a principal prioridade dos governos, por que não investir o suficiente para resolver de vez a pendência?


Assim é que a distância entre Oliveira e Bambuí tende a crescer progressivamente, até que se transforme em mais um destino inatingível, enquanto o lixo continuará destruindo a vida.

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