Se tivesse que definir Pelé, eu diria que ele foi o jogador de futebol mais completo de todos. Ainda mais depois de assistir outra vez Pelé Eterno, documentário de Anibal Massaini Neto, que conta a história do Rei do Futebol. O Pelé garoto-propaganda e homem de negócios, o Pelé namorador e marido, o Pelé embaixador e ministro, o Pelé ator e cantor e o Pelé pai e filho estão todos no filme. Mas o Pelé que mais aparece, evidentemente, é o Pelé jogador. E que jogador!
O longa-metragem, entremeado de depoimentos de jogadores, jornalistas, personalidades e do próprio Pelé, oferece uma overdose de gols. Alguns pelo Cosmos, muitos pela Seleção e centenas pelo Santos. Tem gol de tudo quanto é jeito: de trivela, de chapa, de peito de pé, de bico, de calcanhar, de letra, de carrinho, de voleio, de bicicleta, de cobertura, de bate-pronto, de peixinho, de pênalti, de falta, com sutileza, com força, com bola e tudo. Só não tem gol de trás do meio-de-campo. Esse golaço Pelé não fez. Para sorte do goleiro Viktor.
Alguns fatos inusitados enriquecem o filme, como o protesto da torcida colombiana após o árbitro ter expulsado Pelé de campo em Bogotá e a presença do Santos na Nigéria durante um conflito separatista naquele país. Outros conteúdos são dispensáveis, como os comentários lisonjeiros de Armando Nogueira e a falsa história de que um zagueiro do Bahia teria sido vaiado pela própria torcida ao evitar o gol 1.000 na Fonte Nova. A propósito, a contagem regressiva para o milésimo gol e o momento apoteótico no Maracanã diante do Vasco ganham a devida relevância. Destaque também para as três despedidas de Pelé e para a reconstituição cinematográfica do gol que, segundo ele próprio, foi o mais bonito de todos.
A versatilidade do Rei do Futebol para dominar, controlar e conduzir a bola fica evidenciada no documentário. De pé esquerdo, de pé direito, de cabeça, de coxa, de peito, ele exibe um vasto repertório. Para se livrar dos adversários, Pelé aplicava drible-da-vaca, chapéu, caneta, corta-luz e até uma finta inventada por ele: um drible usando as pernas do adversário como tabela. Coisa de gênio.
Dotado de preparo físico invejável, Pelé mesclava força, velocidade, impulsão, arrancada e flexibilidade. Sem falar na visão de jogo e na rapidez para tomar uma decisão numa fração de segundos. Mazurkiewicz que o diga. Aliás, até de goleiro Pelé jogou. E não tomou gol. Era ou não era um jogador completo? Pensando bem, Pelé não foi apenas o jogador de futebol mais completo de todos. Ele foi também o mais completo de todos os esportistas, como reconheceu o jornal L’Équipe ao premiá-lo como Atleta do Século, e como fica demonstrado nos 120 minutos de Pelé Eterno.
Diogo Tadeu Silveira, residente em Oliveira, é formado em Letras e Direito pela UFMG.
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