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Reciclar para sobreviver

Caminhões novos entregues às associações de catadores é avanço setorial concreto.



Com atraso de anos, chegam a Oliveira dois caminhões novos, preparados para recolhimento de lixo reciclável. Em todo esse tempo de vacas magras, o setor desceu aos infernos, ao ter acesso somente a veículos velhos e deficientes. Período em que o poder público menosprezou o imprescindível trabalho dos catadores, que além de diminuir substancialmente os gastos do Poder Executivo com recursos humanos, iniciaram e consolidaram, por sua própria conta e risco, um dos mais avançados ofícios urbanos.


De fato, já no Século XXI, com toda a exacerbação da sociedade de consumo, o planeta não suporta mais ser tratado como depósito de lixo, e de forma drasticamente letal, dos malignos detritos derivados do desenvolvimento tecnológico.


Química no solo para produzir mais alimentos; dispositivos eletrônicos radioativos ou acionados por acumuladores elétricos; veículos cada vez mais sofisticados e incrementados com eletrônica; queima de combustíveis fósseis pelos milhões de carros operantes; número inimaginável de pneus usados e atirados à natureza. E no topo da pirâmide poluidora, os objetos, roupas e demais artefatos de plástico, material de altíssima resistência e que dura pelo menos 500 anos no solo ou na água.


A invasão por matéria destrutiva do meio ambiente se transformou, nestes tempos, na maior preocupação do Homem, que se sente cada vez mais ameaçado de extinção, num processo suicida que parece sem volta. A única solução possível, para que um desastre maior não ocorra em curto espaço de tempo, é a reciclagem. E mesmo assim, os catadores ainda são tratados, na maioria dos países, como atividade paralela e até mesmo marginal. Para a elite econômica, cata lixo quem não tem o que fazer, quem é morador de rua, vagabundo.


Passou da hora de Oliveira virar esta página. Com elogiáveis esforços de alguns dedicados técnicos e o trabalho diuturno de pessoas simples do povo, estamos presenciando uma verdadeira cruzada de resistência no setor de reciclagem. Hoje, duas associações de catadores resistem bravamente ao desprezo e somenos, dando continuidade ao que deveria ser visto como atividade capital ao mundo pós-moderno. Quantas vezes se viu, pelas ruas de Oliveira, um caminhão caindo aos pedaços, passando às portas das casas para recolher o lixo reciclável de famílias abastadas, Deus sabe a que preço?


Chegaram a Oliveira, Deus seja louvado, dois caminhões novos, encomendados pela Prefeitura para serem utilizados pelas associações de catadores. Como se vê na fotografia publicada na capa desta edição, nem parece ser verdade que, de repente, depois de tantos anos de molambo, o município tenha dado um salto no provimento estrutural do setor. As velhas geringonças, que permaneciam mais inativas do que funcionando, serão substituídas por veículos dignos, à altura da dignidade de seus trabalhadores.


Será uma mudança salutar e simbolicamente positiva, a troca dos veículos da reciclagem em Oliveira. Na realidade, vislumbra-se a constatação de que o setor esteja sendo finalmente reconhecido em toda a sua grandeza e envergadura sócio-ambiental. Trata-se, entretanto, de um primeiro passo firme, dado com a expressiva ajuda da atual administração municipal. À frente ainda se postarão duros desafios, entre eles a obrigação de acabar com os estigmas impostos injustamente sobre essa categoria profissional e a necessidade de suprir as associações dos instrumentos, ferramentas, galpões, veículos e máquinas que facilitem e melhorem a produtividade e a rapidez da coleta.


Reciclar é tudo o que a humanidade precisa para continuar habitando a Terra e usufruindo dos recursos desta maravilhosa residência cósmica. Respeitar e valorizar os catadores é condição basilar para que isso ocorra.

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