De Geraldo Bispo a Múcio Lo-Buono, o fio condutor da identidade oliveirense.
Comemora-se na próxima quarta-feira, mais um aniversário do Brasil Independente. Tradicionalmente a data sempre foi destacada no calendário anual de Oliveira, com desfiles, hinos e bandeiras, discursos e orações em louvor à nacionalidade. Eis a “Semana da Pátria”, comandada, por décadas, pelo insubstituível professor Múcio Lo-Buono. Ao mesmo tempo estará nas ruas o Congado, evento não menos patriótico e civil. Eis o Reinado, cujos vultos ancestrais se diluem e se expressam na figura altaneira e imortal de Geraldo Bispo.
Múcio Lo-Buono ajudou a criar a Semana da Pátria, tendo-a sustentado, praticamente sozinho, durante seus derradeiros anos de vida. Nesse tempo, era dramático, mas nem por isso menos educativo, vê-lo no palanque da Praça XV, nas luminosas manhãs de setembro, portando, imponente, sua faixa verde-amarela, recitando poemas patrióticos e entoando, emocionado, o hino composto pelo imperador.
Geraldo Bispo ajudou a engrandecer e solidificar o Congado, festa que também carregou, por décadas, sobre seus imponentes e fortes ombros. Com a mansidão espelhada em seus olhos, lá está ele no final do cortejo, rodeado de príncipes, reis e da companheira Conceição, fortaleza indevassável de todas as horas.
Necessário este preâmbulo emotivo, para dimensionar o verdadeiro sentido da Festa da Independência do Brasil e do Congado para o povo de Oliveira. Nesta dimensão, é absurdo qualquer uso dessas datas para promoções e campanhas eleitorais, não importa o naipe. Está em curso, neste setembro, o grosso de uma campanha eleitoral marcada pelo antipatriotismo, pelo ódio e pelas intolerâncias que atormentam e turvam a alma dos brasileiros. Algo capaz de transformar o desfile cívico da Independência num brutal palanque eleitoreiro, no qual se negocia o voto em troca de auxílios de sobrevivência, onde candidatos se portam como leiloeiros, aos gritos de “dou-lhe uma”, sequestrando as cores da bandeira, apossando-se delas como se fossem propriedade particular.
Neste momento é preciso que os oliveirenses ativem suas memórias e projetem em suas imaginações aqueles tempos em que centenas de alunos de primeiro e segundo graus iam às ruas, com seus uniformes de gala, não para cultuar falsos e muitas vezes contestáveis ídolos, mas para professar, de maneira clara e abundante, seu inocente e puro amor pelo país.
Para que o povo de Oliveira não perca o fio condutor de suas autênticas tradições e motivos de comemorar o Sete de Setembro, também ocorre, no mesmo período, o Congado, a Festa do Rosário, de todas, talvez, a maior, mais preservada e mais expressiva de Minas, construída, honrada e elevada gloriosamente pelo ancestral Geraldo Bispo. Paralelamente aos hinos e orações à pátria, muitas vezes misturados a slogans espúrios, estarão nas ruas os tambores que reverberam a mais potável e cristalina brasilidade. Muito mais que o clamor da negritude, o Congado espelha e faz retumbar o verdadeiro grito de liberdade e Independência do Brasil, com suas diversidades, crenças, sua ardente e amorosa devoção aos santos padroeiros.
Tudo o que Múcio Lo-Buono queria e fazia, mesmo cantando e declamando para uma Praça XV vazia, é o que os negros do Rosário nos mostram, incólumes e absolutos, ao dançar, cantar e ribombar seus tambores na mesma praça, sem se deixarem macular pelos caldos pestilentos das ideologias populistas e autoritárias, que deprimem, reprimem e separam.
Quão bom seria se Múcio Lo-Buono pudesse ser visto, ao longo desta semana, elevado gloriosamente ao palanque, ao lado de Geraldo Bispo, ambos trazendo às mãos, o cetro imaculado de nossa verdadeira liberdade.
Comentários