Ao voltar a eleger um deputado nativo, Oliveira reencontra o mapa da mina.
“Eleição e mineração, só depois da apuração”, diz o ditado bem mineirinho, que mais uma vez se mostrou verídico no caso de Oliveira. E na bateia das urnas havia ouro. Finalmente, após décadas de anseios e buscas, este município, de enormes tradições políticas, voltará a ocupar um assento na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. De fato, a vitória de Lucas Lasmar, jovem de 31 anos, faz com que Oliveira ressurja na cena estadual.
É ouro na bateia, porque o neo-parlamentar, apesar da pouca idade, já carrega expressivas experiências no âmbito político-administrativo. Primeiramente note-se que foi gerado e criado num círculo familiar marcado pela gestão municipal. Seu pai, Ronaldo Resende, tem uma ampla história como prefeito por dois mandatos. Sua mãe, Cristine Lasmar, idem. Óbvio que sua infância foi permeada de políticos de todos os matizes, que trafegavam entre sua residência e a Prefeitura. Tudo isso lhe deu cabedal suficiente para pleitear uma cadeira na Câmara Municipal, o que conseguiu, com pouco mais de vinte anos e maior votação entre os eleitos.
O afastamento do cargo de vereador para assumir a Secretaria Municipal da Saúde, apesar das severas críticas que recebera naquele momento, talvez tenha sido a decisão mais estratégica e, portanto, acertada de seu início de carreira. Em menos de quatro anos à frente da pasta, foi possível demonstrar, de maneira inquestionável, não somente sua vocação para o trato partidário, mas, e principalmente, sua capacidade de administrar. Note-se que Lasmar exerceu parte de sua gestão sob os pernósticos e imprevisíveis efeitos da pandemia de Covid-19, tendo conduzido suas ações de forma exemplar.
Se o vigoroso sufrágio de Lucas Lasmar chegou a ser, para muitos, uma grata surpresa, tecnicamente já se previa que, com as alianças que costurara com Sávio Souza Cruz e Paulo Abi-Ackel, suas chances de sucesso eram notórias. Obrigatório, neste ponto, voltar para dentro de sua família, onde esses dois personagens sempre mereceram a lealdade de Ronaldo Resende, que os auxiliou, por décadas, no exercício de seus mandatos e na distribuição de suas ações pelo Centro-Oeste de Minas. É certo, pois, que boa parte dos votos alcançados por Lucas adveio dessa longa trajetória vivida pelo seu pai, fruto, pois, de trabalho realizado.
Na bateia da apuração eleitoral oliveirense, as perdas ficaram para a derrota de Gustavo Mitre, que apesar do grandioso trabalho realizado no transcorrer de seu primeiro mandato, não conseguiu se reeleger, embora tenha obtido quase o dobro de votos de Lucas Lasmar. Mais uma vez falou mais alto a injusta regra do quociente eleitoral, “método pelo qual se distribuem as cadeiras nas eleições pelo sistema proporcional de votos, em conjunto com o quociente partidário e a distribuição das sobras” (Wikipédia). Esse estranho arranjo contido na legislação eleitoral brasileira simplesmente impede que o candidato que tenha obtido maior número de votos seja eleito, numa esdrúxula inversão da lógica elementar. Assim, mesmo com mais de 48 mil votos, indicando a excelência do cumprimento de seu mandato, Gustavo Mitre não estará na Assembleia em 2023, um diamante que por muito pouco escapou de nossas mãos, escondido na ganga bruta da mineração eletiva. Cabe, aqui, fazer-lhe vênias e agradecê-lo de maneira enfática, pelo que fez pelo nosso hospital, pelas nossas escolas e especialmente pela nossa cultura, setor tão essencial como a saúde, mas que, entretanto, costuma ser posto na rabeira das prioridades mandatárias.
Vai, Oliveira, agora com um deputado nativo, iniciar 2023 com enormes expectativas em torno de suas possibilidades. E com certeza elas não se frustrarão, se Lucas Lasmar continuar trilhando o caminho no qual iniciou sua virtuosa viagem pelo mundo da política.
A mina é rica e seus resultados dependerão de como será explorada.
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