Ao invés de progresso, estrada de ferro que corta Oliveira produziu os cadáveres insepultos da prevaricação.
É, no mínimo, criminoso o que ocorre com a Ferrovia Centro-Atlântica, que corta o perímetro urbano de Oliveira como uma ferida infeccionada e incurável. São bilhões de reais de recursos públicos literalmente atirados na lata de lixo. Sucateada e apodrecida, a atual situação da estrada de ferro, construída na década de 1960 como solução futurista para o transporte de cargas e, em direta proporção, para impulsionar o desenvolvimento de Minas, hoje não passa de um estrondoso escândalo, e, pior, despudoradamente impune.
Passam-se as décadas e a inépcia dos governos em relação a este monstruoso problema resiste, incólume. Há, tudo indica, uma “decisão” de quem assume, herdada daqueles que deixam o poder, de não tocar neste tumor, para não reavivar as dores e miasmas que dele emanam. O fato mais recente, e não menos inócuo, vem da iniciativa da Assembleia Legislativa de Minas em instituir a Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras, algo que, até aqui, nada produziu além de reuniões, audiências, cafezinhos e falatório.
Destino, o nosso! A primeira ferrovia a cortar Oliveira foi a Rede Ferroviária Centro Oeste, inaugurada no final do Século XIX com grande pompa e desmedias esperanças. Nessa onda entrou este município, certo de que seus vagões e fogosas marias-fumaça seriam os veículos ideais para o escoamento e exportação de suas emergentes safras de café e pujantes rebanhos de gado bovino, além, claro, do transporte de passageiros até ao litoral. Poucos anos bastaram para esse fogo visionário ser apagado na água gelada da incompetência e dos descaminhos governamentais. Aos poucos, a abundante fumaça das locomotivas e o frenético resfolegar dos pistões de vapor foram diminuindo de frequência e intensidade, até que nada mais restou, além de estações e trilhos abandonados.
Décadas mais tarde, decidem os políticos por um novo e retumbante empreendimento: a abertura de um moderno leito e assentamento de trilhos de bitola larga, desta vez para caber as grandes máquinas movidas a diesel, símbolo do avanço tecnológico da época e capazes de conduzir dezenas de vagões, carregados com milhares de toneladas de mercadorias, principalmente minério, em direção ao porto de Santos. Tamanha obra só não recebera o carimbo de faraônica, devido aos seus justificados motivos. O vultoso investimento valeria a pena, pois no final da linha estaria o ainda almejado desenvolvimento econômico-social.
Mas, por cruel maldição, mais uma vez os trilhos deram no vazio e, como na primeira experiência, o tráfego das imensas composições, muitas vezes com necessidade até de duas máquinas para puxar a imensa e pesadíssima fila de vagões e contêineres, foi se esvaziando gradativamente, até a paralisação completa.
Gazeta de Minas publica, nesta edição, uma importante matéria jornalística. Trata-se da narrativa do que sobrou da Estrada de Ferro Centro-Atlântica, no trecho de Oliveira. A visão macabra despertada pelas imagens de vagões apodrecendo nas estações são as de um cemitério de corpos insepultos e em decomposição, com esqueletos já à mostra, escancarando a sórdida capacidade dos políticos em produzir ambientes de verdadeiro terror. Tudo isto bem aos olhos da sociedade, que passou a conviver passivamente com esses “zumbis”, como se fizessem parte de sua trágica história, de sua amargurada rotina. Isso sem contar a situação de abandono das centenas de quilômetros de trilhos, viadutos e pontes, bens públicos já em ruínas.
A situação é mais que escandalosa: prova a incorrigível incapacidade dos políticos de gerirem de forma correta, proativa e proba os recursos públicos colocados sob suas responsabilidades. Bilhões de reais atirados na cova rasa da improbidade. A quem responsabilizar? O que estaria por trás do imenso e pavoroso cemitério em que se transformou essa via férrea? Quem vai pagar por esse imensurável prejuízo ao erário? O que fazer para colocar novamente as esperanças regionais nos trilhos?
Eis o tamanho do problema posto sobre os ombros de Oliveira.
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