Episódios de violência no cortejo do Boi do Rosário mostram alto grau de degeneração social.
São graves e abomináveis os episódios de violência ocorridos durante o cortejo do Boi do Rosário, tradicional evento cultural de Oliveira. Desconhece-se, em toda a centenária história dessa manifestação popular, algo pelo menos parecido com tais incidentes, que trouxeram enorme prejuízo à sociedade, que se frustrou e foi tolhida da alegria única, sempre resguardada nesse momento de manifestação coletiva. E pior: o fato rompe os limites da festa, escancarando uma sociedade cada vez mais doentia e distante de seus reais valores.
Para entender o fenômeno criminoso, é necessário sair do contexto do Congado, festa de fé, fervor e magnânima paz, e mergulhar nos obscuros tempos ora vividos no Brasil, desfigurado por um sistema educacional ineficiente e um ambiente familiar em perfeita desordem. Desinformada, analfabeta e literalmente deseducada, parte da juventude não encontra mais ligações com o respeito, com a sensação de pertencimento e, daí, com qualquer traço da verdadeira cidadania.
Cria-se, hoje, na verdade, uma legião de alienados, que se agarra a paliativos ditados pela ininterrupta conectividade com o mundo virtual, oferecida pelos celulares e demais meios eletrônicos, pareando o certo ao errado, situando-os como coisa única, que se processa impunemente e sem os devidos freios da lei e dos regulamentos do pacto social. Ou seja: as atuais circunstâncias históricas do Brasil estão produzindo delinquentes em série, que acabam no crime organizado ou na transgressão individual, do vandalismo ao homicídio.
Não há dúvida de que tal comportamento se projeta no dia a dia da cidade, acabando por produzir situações inesperadas e assustadoras, influenciando negativamente em suas manifestações coletivas, como é o caso do Boi do Rosário, evento de raízes altamente democráticas e libertárias, que reúne pessoas e tribos, independentemente de raça, cor ou situação econômica, numa celebração da fantasia e do encantamento.
O problema se aprofunda quando consegue, como ocorreu no sábado, interromper um evento de alta significância lúdica. Nesses momentos, os delinquentes conseguem tomar o poder e sequestrar os valores sociais, transformando-os em ferramentas para impor seus atos de transgressão. Escorados na impunidade, que quase sempre prevalece, acham-se plenos e eficazes, livres para continuar a escalada de insanidades, desligados do seu meio e sem nenhum remorso pela destruição que provocam.
O que ocorreu no cortejo do Boi do Rosário deste ano é, em resumo, consequência das mazelas sociais que muitas vezes tentamos ignorar e teimamos em não enxergar, embora óbvias, por difíceis e dolorosas ou por simples negligência.
Para conter esse tipo de tumor social é preciso acionar, primeiramente, medidas de inteligência, prevenção e forças de repressão, reconhecendo possíveis baderneiros em meio ao povo, retirando-os a tempo de evitar um desastre maior. Também será necessária a presença ostensiva de contingente policial em pontos estratégicos do cortejo, garantindo a ordem e inibindo novos atos de hostilidade.
Mas as soluções definitivas, essas dependem do que possa ocorrer no seio das famílias, nas salas de aula e nas instâncias dos poderes constituídos. Em todos esses níveis, são reais e urgentes os apelos por mudanças profundas, que precisam estar presentes nos fóruns de discussões e nos vários níveis de aperfeiçoamento técnico desta nação.
A sociedade gera monstros, que acabam por escravizá-la. Seremos competentes o suficiente para eliminá-los?
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