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Violência interrompe desfile do Boi do Rosário

Violência interrompe desfile do Boi do Rosário


Foto: Cássio Silva

Geraldo Bispo: Algumas pessoas não sabem a dimensão da importância do Boi do Rosário.


O histórico cortejo cultural conhecido como “Boi do Rosário”, que anuncia a Festa do Congado de Oliveira, foi interrompido pela organização do evento na noite de sábado (3), sob alegação de insegurança para o público participante e atos de violência e vandalismo contra a alegoria, seus condutores e caixeiros. O boi é representado por uma armação de bambu, coberta por um tecido colorido e estampado e provido de uma cabeça de touro. Em seu interior vai uma pessoa que carrega a estrutura e, numa brincadeira, dança e investe contra a multidão, ao toque típico de caixas.


O desfile, que teve início na Casa do Congadeiro Geraldo e Conceição Bispo, no Bairro das Graças, deveria passar pela Praça XV de Novembro e subir ao Alto de São Sebastião, de onde retornaria ao seu ponto de origem. Entretanto, na Praça Doutor José Ribeiro da Silva, o capitão-mor do Congado, Geraldo Bispo dos Santos Neto, decidiu interromper o evento e retornar à Casa do Congadeiro, descendo pela Rua Baptista de Almeida sem o toque das caixas, que voltaram a soar somente na chegada à sede da instituição. Ao mesmo tempo, na Praça de São Sebastião, uma multidão aguardava a passagem do Boi.


Devido a incidentes acontecidos em desfiles anteriores e por reunir milhares de pessoas, a organização já havia anunciado uma redução no trajeto do cortejo, que não mais passaria pelas ruas estreitas do Bairro São Sebastião.


Segundo o capitão mor, provavelmente em decorrência da pandemia da Covid-19, que impediu a saída do Boi nos últimos dois anos, a participação popular desta vez foi a maior já constatada. Sobre sua decisão, explicou que as anormalidades tiveram início logo após a saída do cortejo, com a ocorrência de alguns focos de brigas, próximo a uma ponte na Avenida Maracanã, que se repetiram na passagem pelo antigo mercado municipal e Praça XV de Novembro, diante do palanque, enquanto o Boi cumprimentava a figura da Princesa Isabel, e ao lado dos mastros com as bandeiras dos santos padroeiros, quando foram atiradas latas de cerveja e refrigerantes contra a alegoria.


No momento em que o boi passava ao lado da Matriz de Nossa Senhora de Oliveira, um dos cinco carregadores da alegoria caiu, ao ser agredido com uma rasteira, tendo se ferido. Ele foi substituído por outro carregador, que também caiu e se feriu por golpe idêntico. Por diversas vezes, pessoas tentaram derrubar o Boi e em algumas conseguiram com empurrões ou puxando a alegoria pela cauda, fato postado em vídeos nas redes sociais. Temendo pela integridade física dos carregadores e caixeiros, que também sofreram agressões, Geraldo Bispo optou pela volta à Casa do Congadeiro. Ainda sobre o clima de insegurança, o capitão-mor disse ter recebido informações de que havia pessoas portando armas de fogo em meio à multidão e que poderia haver um confronto entre rivais para um “acerto de contas” na Praça São Sebastião.


Lamentando o ocorrido, Geraldo Bispo disse que sua sensação é de decepção e tristeza, devido à falta de respeito de algumas pessoas para com uma tradição de Oliveira. “O boi não é um instrumento carnavalesco. É uma festa tradicional, que tem uma importância fundamental no Reinado de Nossa Senhora do Rosário”, declarou. Segundo ele, as pessoas têm que aprender a respeitar a tradição, e da mesma forma como devem ser respeitadas todas as religiões, o boi também merece ser respeitado como manifestação religiosa.


Geraldo Bispo informou que as anormalidades seriam relatadas às autoridades para tentar identificar autores e se comprometeu a estudar um novo planejamento, para que no próximo ano o evento seja realizado com mais segurança e não corra o risco de desaparecer.


Minutos após o encerramento do desfile, o sargento Derley Porteles, em entrevista à Rádio DC2 FM, declarou que a Polícia Militar (PM) não constatou nenhuma irregularidade grave durante o cortejo. O comandante da PM em Oliveira, tenente Clevson Montijo, informou que a corporação não recebeu nenhuma denúncia de anormalidades ou de pessoas armadas, motivo pelo qual a Polícia Militar também foi surpreendida com o encerramento repentino do evento.


Repercussão na Câmara

Os incidentes repercutiram na Câmara Municipal, durante a sessão ordinária da segunda-feira (5). Éderson de Souza da Silveira (MDB) lamentou o ocorrido, ao ressaltar que o Boi faz parte da cultura de Oliveira. O vereador disse que pessoas maldosas tentaram atrapalhar a festa tradicional. Ele pediu para que no próximo ano as autoridades possam dar o apoio e segurança ao evento.


Sirley Clécio da Silveira (PDT) também lamentou o fato e observou que o Brasil vive um momento de intolerância e a violência tem aumentado consideravelmente. Para ele, isso se reflete nas festas populares, como a do Boi do Rosário. Já o vereador Robson Lima Souza (PDT) parabenizou o capitão-mor da Festa do Rosário, Geraldo Bispo dos Santos Neto, pela sensatez e tranquilidade. Ele também pediu mais segurança para os próximos eventos que acontecerão na cidade.


Antônio Ananias de Sousa (MDB) se disse triste ao lembrar que o Boi é uma festa tradicional da cultura da cidade e que não era realizada há dois anos. Para ele, o que aconteceu foi consequência da falta de compromisso do Executivo e da Secretaria de Cultura, em razão de carros transitando nas ruas durante o desfile. Acrescentou que a Prefeitura não ofereceu nenhum apoio para o cortejo e por isso a festa se transformou em uma grande baderna, não tendo o tradicional encerramento no Bairro São Sebastião, devido à falta de segurança.

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