A inflação dos alimentos revela a humilhante face da injustiça social.
Nada mais problemático para o trabalhador do que a escalada da inflação dos alimentos, fator que vem crescendo no Brasil e provocando o aumento do número de pessoas em situação de insuficiência alimentar. É a fome, consequência direta da incapacidade do ser humano em suprir suas próprias necessidades básicas. Hoje, em todo o Brasil, já são nada menos do que trinta e dois milhões de pessoas nessas condições. Como mostra reportagem publicada nesta edição de GAZETA DE MINAS, a mais recente pesquisa realizada pelo setor técnico da Fundação Educacional de Oliveira (FEOL) escancara, de forma inequívoca, esta dolorosa realidade.
O Custo da Cesta Básica no município passou de R$ 637,55 no mês de agosto para R$ 667,44 em setembro, sendo o custo em Oliveira maior que Belo Horizonte, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Em BH o custo da cesta básica em setembro foi de R$ 650,16.
O preço dos alimentos provoca um absurdo financeiro: o valor da cesta básica representou, em setembro de 2022, cerca de 59,53% do salário mínimo líquido, deduzidos os 7,5% de Previdência Social. O resultado desta amarga verdade é que o oliveirense que ganha 1 salário mínimo por mês, precisou trabalhar 131 horas somente para adquirir os produtos da cesta básica. E o restante?
Viver e sobreviver são termos bastante diferentes, quase antônimos. Vive aquele que detém as condições culturais, sociais e econômicas suficientes para se alimentar bem, se locomover, se vestir, se formar, morar com dignidade, ter acesso à saúde e, sobretudo, desfrutar de autênticas liberdades e dos indispensáveis direitos individuais. Esse suposto indivíduo consegue vencer e, finalmente, experimentar o que possa ser a tal felicidade. Sobrevive aquele que luta para conseguir o mínimo necessário para que seu corpo continue operante, embora saiba que se encontra mal nutrido e maltratado. E por não conseguir suprir suas necessidades primárias, todas as outras estarão automaticamente comprometidas: sem educação, sem teto, sem saúde, sem liberdade, dependente da caridade alheia e proibido de exercer a verdadeira cidadania. Escravo, enfim.
Ora, o trabalhador oliveirense que possua uma família de três pessoas e que não consiga auferir mais do que um salário mínimo por mês, está literalmente sobrevivendo. E caso não consiga melhorar sua renda, com certeza seu estado de miséria gerará problemas maiores, como a subnutrição dos filhos, que influenciará negativamente no desenvolvimento global dessas crianças, que por certo encontrarão grandes dificuldades em aprender, tomando o humilhante apelido de “burro”, analfabeto funcional. Não é necessário descrever, aqui, as nefastas consequências de tudo isto.
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